Qual a melhor cadência para hipertrofia?
Será que deves ser explosivo em toda a repetição? Ou utilizar o superslow para o máximo trabalho excêntrico?
Neste artigo vais aprender a manipular a velocidade de execução para hipertrofia e garantir que consegues extrair o máximo de crescimento em cada repetição e fase da tua periodização.
Vamos a isto!
CADÊNCIA PARA HIPERTROFIA
A cadência é a variável do treino que trata a velocidade de execução de cada repetição.
Ou seja: responde às questões “quão depressa” e “quão controlada” deve ser feita cada repetição.
E, para isso, precisamos de distinguir as 4 fases do movimento que compõem a cadência:
- Fase Excêntrica – fase de “descida” ou desaceleração, onde permites que a resistência vença o teu movimento, alongando gradualmente o músculo-alvo;
- Fase Isométrica em Alongamento – após “descer” e alongar o músculo. Pode ser nula (caso transites logo para a fase seguinte) ou pode ser feita uma pausa neste momento.
- Fase Concêntrica – fase de “subida”, positiva, ou de aceleração, onde vences a resistência, encurtando o teu músculo;
- Fase Isométrica em Encurtamento – ou lock-out, quando terminaste a repetição e aproximaste o músculo do seu encurtamento.
Entendendo que cada uma destas fases tem as suas caraterísticas, vamos abordá-las individualmente nos capítulos seguintes.
FASE CONCÊNTRICA
Antes de entrarmos na teoria por trás da cadência para hipertrofia é necessário relembrar uma lei física:
Força (F) = massa (m) x aceleração (a)
Ou seja:
Para o mesmo peso/carga, quanto mais aceleração impuseres no movimento, mais força gerarás.
Se fizeres um agachamento de 100kg com um deslocamento de 1 metro/segundo vais exercer menos força do que se o moveres mais rapidamente (ex: 2 m/s).
Logo, se exerces menos força – geras menos tensão nessa repetição.
E como a tensão mecânica é um dos principais mecanismos hipertróficos, queremos maximizar a tensão gerada em cada repetição.
“Ahhh… mas se eu desacelerar a subida estarei mais tempo sob tensão!”
Sim, estarás.
Mas estarás sob muito menos tensão – muito menos estimulativa.
Pelo que desacelerar a fase concêntrica intencionalmente resulta em muito mais fadiga, sim. Mas sem qualquer benefício para o teu crescimento muscular (1).
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Em contrapartida, acelerar a fase concêntrica leva a mais crescimento muscular (2-4). E mais ganhos de força (5-7).
Isto porque irás ver melhor ativação muscular e recrutamento das fibras tipo-II – mais fortes e hipertrofiáveis.
RESUMINDO
A Fase Concêntrica deve ser feita o mais explosiva possível para maximizar o recrutamento das fibras e a tensão gerada em cada repetição.
Independentemente disso, é importante que esta “explosão” não seja feita à custa de um devido controlo do movimento – garantindo que é o músculo-alvo a dar aso a este movimento. E não balanços ou outros músculos que não os pretendidos com o exercício!
FASE EXCÊNTRICA
Se “F = m * a” então também quero fazer a fase excêntrica o mais depressa possível, certo?
Não.
Porque:
- Na fase excêntrica é a gravidade que impõe a velocidade à barra, não o atleta.
O teu papel aqui é combater esta velocidade e desacelerá-la.
Quanto menos fizeres para desacelerar / mais rápida for a fase excêntrica – menor será a ativação muscular e menos força e tensão gerarás nesta fase.
Logo, não conseguirás retirar tanto estímulo para o teu crescimento desta fase se o movimento for excessivamente acelerado.
2. Quanto menos tu desacelerares a fase excêntrica, mais a barra/haltere/máquina acelera e mais força vai exercer sob os teus tecidos, aumentando o risco de lesão.
O que é particularmente preocupante do ponto-de-vista de prevenção de lesão.
Isto porque a barra/equipamento ganhará cada vez mais velocidade e será muito mais difícil de controlar e tolerar. Quer pelos teus músculos, quer pelas tuas articulações, tendões e ligamentos.
Por isso, é crucial que controles minimamente a fase excêntrica (pelo menos 1 segundo) para que minimizes o risco de lesão na fase da repetição mais propícia a estes acidentes.
Ou seja:
A fase excêntrica deve ser controlada (pelo menos 1 segundo) para minimizar o risco de lesão
Simultaneamente, há estímulo hipertrófico que podes extrair desta fase do movimento.
Na fase excêntrica, o músculo está a alongar enquanto contrai.
O que significa que os seus elementos estão a sofrer a tensão da contração muscular e, além disso, os elementos elásticos (como a titina) estão também a ser deformados e a contribuir com mais tensão.
Ou seja: ao controlar a fase excêntrica conseguirás receber tensão adicional dos elementos elásticos do músculo, contribuindo para maior estímulo para o teu crescimento muscular.
Quanto tempo controlar a fase excêntrica para hipertrofia?
O que os estudos nos mostram é que não há qualquer benefício em prolongar a fase excêntrica além dos 2 segundos. (8-11).
Isto porque embora possas aumentar o tempo sob tensão, arriscas-te a perder volume total (fazeres menos repetições).
E, simultaneamente, gerar tanto dano muscular adicional que comprometerá as séries e os treinos seguintes – perdendo estímulo para o crescimento muscular se olharmos para um treino e/ou semana de treinos como um todo.
NOTA
Há momentos numa periodização onde poderá fazer sentido manipular a sobrecarga excêntrica como método de proporcionar maior hipertrofia mionuclear.
No entanto esta é uma técnica de treino muito peculiar e que apenas deve ser implementada em cenários muito específicos e com o devido planeamento profissional.
FASES ISOMÉTRICAS / PAUSAS
Outra variável extremamente importante da cadência para hipertrofia são as fases isométricas da repetição, ou pausas.
Estes são momentos onde pausas a repetição numa parte do movimento para aproveitar a sobrecarga num dado comprimento do músculo.
Geralmente estas pausas são utilizadas em encurtamento ou em alongamento para aproveitar estas sobrecargas e tirar um proveito mais concreto desse exercício.
Em termos científicos, a utilização destas pausas / isometrias são um tópico controverso no âmbito da cadência para hipertrofia:
Por um lado, ao parar o movimento em exercícios onde não exista um desafio concreto nestas posições, estamos a permitir algum descanso ao músculo. E, de certa forma, podemos argumentar que perdemos eficiência temporal no treino.
Por outro lado, os elementos elásticos que alongam durante a fase excêntrica do movimento contribuem positivamente para aumentar a produção de força na fase concêntrica através do reflexo miotático (reflexo ao alongamento do músculo) (12). E do ciclo muscular alongamento-encurtamento (13). Ambos fatores que permitem utilizar cargas superiores e, assim, gerar mais tensão e estímulo para o crescimento muscular. (14).
Logo, ao utilizar pausas, perdemos este contributo para a fase concêntrica.
Por outro lado (ainda), a utilização de pausas leva à dissipação de alguma energia elástica acumulada durante a fase excêntrica. O que faz com que seja necessário mais trabalho puramente muscular (e menos dos elementos elásticos) com menos carga e nos permita poupar tecidos como ligamentos e articulações.
QUANDO UTILIZAR PAUSAS NUMA CADÊNCIA PARA HIPERTROFIA?
Primeiro… em exercícios e em momentos que beneficiem disso:
- Pausas em alongamento em exercícios que desafiem o músculo na posição alongada (ex: supinos e chest presses, aberturas de peito, agachamentos e variações, stiffs, skullcrushers, …)
- Pausas em encurtamento em exercícios com desafio no fim/no lock-out (ex: hip thrust, leg extension/curl, pec deck, remadas e puxadas, voos, …)
Segundo… não precisas de as utilizar em todos os exercícios e/ou blocos de treino.
Podes e deves periodizá-las de forma a apresentar maior sobrecarga numa determinada porção do movimento durante X tempo. E alterar esta sobrecarga quando necessário.
Ou até mesmo utilizá-las como forma de aprendizagem e estandardização técnica – para garantir que tens a técnica daquele exercício bem apurada e controlada em toda a sua amplitude.
CONCLUSÃO – QUAL A MELHOR CADÊNCIA PARA HIPERTROFIA?
Não há uma referência realmente predefinida para a mais eficaz ou melhor cadência para hipertrofia.
No entanto, estes são os pontos que deves reter para maximizar a tua velocidade de execução:
- Fase Concêntrica – O mais explosiva possível, sem comprometer o controlo do movimento e a conexão mente-músculo.
- Fase Excêntrica – minimamente controlada (1 a 2 segundos), podendo prolongá-la ou enfatizá-la em blocos de treino específicos para a sobrecarga excêntrica.
- Pausas – não existe um consenso científico sobre a superioridade da utilização de isometrias para hipertrofia. Mas poderão ser utilizadas para gerar maior sobrecarga numa determinada porção do movimento ou comprimento muscular, tal como para levar à redução da carga e do stress imposto sobre os tecidos adjacentes.
Bons treinos – e não te esqueças:
Juntos vamos superar o teu potencial e…
QUEBRAR OS TEUS LIMITES
REFERÊNCIAS: VELOCIDADE DE EXECUÇÃO E CADÊNCIA PARA HIPERTROFIA
- Pearson, J., Wadhi, T., Barakat, C., Aube, D., Schoenfeld, B. J., Andersen, J. C., … & De Souza, E. O. (2021). Does Varying Repetition Tempo in a Single-Joint Lower Body Exercise Augment Muscle Size and Strength in Resistance-Trained Men?. The Journal of Strength & Conditioning Research.
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- Vinstrup, J., Calatayud, J., Jakobsen, M. D., Sundstrup, E., & Andersen, L. L. (2016). Focusing on Increasing Velocity during Heavy Resistance Knee Flexion Exercise Boosts Hamstring Muscle Activity in Chronic Stroke Patients. Neurology research international, 2016, 6523724. https://doi.org/10.1155/2016/6523724
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- González-Badillo, J. J., Rodríguez-Rosell, D., Sánchez-Medina, L., Gorostiaga, E. M., & Pareja-Blanco, F. (2014). Maximal intended velocity training induces greater gains in bench press performance than deliberately slower half-velocity training. European journal of sport science, 14(8), 772-781.
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- Nóbrega, S. R., Barroso, R., Ugrinowitsch, C., da Costa, J. L. F., Alvarez, I. F., Barcelos, C., & Libardi, C. A. (2018). Self-selected vs. Fixed repetition duration: Effects on number of repetitions and muscle activation in resistance-trained men. The Journal of Strength & Conditioning Research, 32(9), 2419-2424.